sexta-feira, 31 de outubro de 2008

leia ouvindo: Um Refrão Mudo Para Um Amanhecer Surdo - Nenê Altro e o Mal de Caim

Desliguei o computador. Troquei de roupa. Estendi o cobertor, depois o edredon. Abri o baú, peguei o travesseiro. Coloqueio os fones de ouvido. Deitei. Apaguei a luz. Apertei o play.
Não senti nada nos três primeiros acordes, mas então, à tona veio tudo nos meus olhos fechados e parecia me guiar cordialmente por um castelo sombrio e cheio de névoas. Me senti à vontade.
vi sorrisos sinceros de cadáveres em decomposição, vi o luxo da nobreza passando por cima de seus escravos de guerra. vi crianças mortas correndo nos Campos de Centeio. Vi crianças mortas ao chão da faixa de gaza.
E então, vi uma senhora muito velha e muito branca. ela tinha um gorro preto que cobria sua face. Logo percebi, era a morte. Ela chegou mais perto e me sorriu com um Olá amigável. Então senti seu perfume sutil e ela não era mais tão feia. Tornou-se uma moça perigosamente bela e eu caí em desgraça - me apaixonei.
Não senti dor, nem cócegas, nem náuseas, nem cólera. A morte é minha amiga, parceira de longa data. Está comigo desde o meu nascimento, mas até então nunca tinha a visto.
A música acabou, só me resta agora dormir e sonhar. Sonhar com flores ou pássaros, pois já que acordado vi o que muitos não vêem dormindo.

Nenhum comentário: